Mais de 1 milhão de crianças e adolescentes estão em situação de trabalho no Nordeste brasileiro, diz estudo da Fundação Telefônica Vivo

·        Íntegra da pesquisa foi apresentada durante o IV Encontro Internacional sobre Trabalho Infantil realizado na última segunda-feira (26), em São Paulo.

·        Estudo também aponta índices do chamado Cone Sul e aponta dados ainda alarmantes.
Estudo encomendado pela Fundação Telefônica Vivo à consultoria Tendências aponta os impactos socioeconômicos do trabalho infantil e adolescente no Brasil e no restante do Cone Sul. De acordo com a pesquisa, no curto prazo, o trabalho prejudica o desempenho escolar das crianças; reduz em 17,2% a aprovação escolar; afeta o progresso educacional em 24,2% dos casos; e ainda aumenta em 22,6% a evasão escolar.
No longo prazo, o trabalho precoce reduz a capacidade de acúmulo de capital humano, o que também interfere no desenvolvimento da região e do país. Nesse sentido, a região Nordeste, no Brasil, é uma das mais prejudicadas, já que conta com a maior fatia dos trabalhadores infantis e adolescentes brasileiros, de 35%, o que representa 1,28 milhão de pessoas.
A pesquisa, que traça também alguns dos principais prejuízos causados pelo trabalho infantil na região Nordeste, faz parte da contribuição do Grupo Telefônica ao IV Encontro Internacional sobre Trabalho Infantil, realizado em agosto na capital paulista.
“Queremos mobilizar a sociedade quanto ao tema do trabalho infantil e garantir aos adolescentes um trabalho protegido, de forma que possam aprender uma profissão sem correr riscos ou prejudicar os estudos”, destaca Françoise Trapenard, presidente da Fundação Telefônica Vivo.
TRABALHO INFANTIL - O trabalho infantil é definido pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) como qualquer atividade econômica exercida por crianças com menos de 12 anos, bem como funções exercidas por jovens abaixo dos 18 anos, enquadradas como “piores formas de trabalho” - tarefas que em geral afetam a saúde mental e física do adolescente.
No Nordeste, uma das áreas na qual a Fundação tem maior foco de atuação, o perfil das crianças em situação de trabalho é geralmente de meninos, primogênitos e afrodescendentes. A região ainda se destaca por ter mais de 50% dos jovens brasileiros ocupados na zona rural. Dos 1,37 milhão de crianças e adolescentes trabalhadores nesse grupo, 721 mil estão no Nordeste.

Em todo o país, a zona rural se destaca pelo maior percentual de crianças e adolescentes que trabalham em todas as faixas etárias. Nessa área, onde as crianças começam a trabalhar mais cedo, o percentual de crianças com 5 a 9 anos ocupadas chega a 2,5%, valor bem acima dos 0,2% da área urbana. Mais de 40% dos adolescentes com 16 e 17 anos de idade que vivem na zona rural trabalham, assim como quase 30% dos jovens entre 14 e 15 anos.
Um ciclo de prejuízos - Segundo o levantamento, 20% das crianças e adolescentes que trabalham não frequentam a escola, e a não frequência está diretamente relacionada à jornada de trabalho.
Um dos grandes problemas da região Nordeste é também o trabalho infantil doméstico, considerado uma das piores formas de trabalho infantil – e um dos motivos para baixo desempenho escolar, principalmente das meninas. Dos 258 mil brasileiros dos 10 aos 17 anos contabilizados em 2011 nos dados da PNAD como trabalhadores domésticos, quase 40% estão na região Nordeste.
Segundo o estudo da Fundação, a erradicação do trabalho infantil aumenta o nível educacional e, consequentemente, gera ampliação da renda e melhor desempenho econômico e de políticas públicas no país. O recorte estima ainda que implementar políticas de erradicação no Cone Sul, entre 2006 e 2026, deverá trazer benefícios totais de 77,1 bilhões de dólares.


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